Olá, me chamo Lindemberg Silva de Almeida, mas
conhecido como Berg. Conheci a proposta de intercâmbio intercultural com o
professor Nicola Andrian em 2017, parte do seu processo de pós-doutoramento com
o programa de pesquisa e intercâmbio Intereurisland. Eu estava no 5º período do
curso de graduação em Pedagogia. Nunca passou por minha cabeça fazer um
intercambio, sempre me pareceu algo distante da minha realidade, tanto
financeira, como a dificuldade de aprender um idioma novo. Por isso, nunca me
inscrevi no processo e nunca participei do curso de língua e cultura italianas oferecidos pelos intercambistas quando viam ao Brasil. Terminei a minha graduação
em 2019 e em 2022 retornei a universidade do estado da Bahia – UNEB/DCH III no
curso de pós-graduação mestrado em Educação, Cultura e Territórios Semiárido –
PPGESA.

Com esse retorno, reencontrei o professor
Nicola que faz parte do corpo docente do programa, e soube da possibilidade de
fazer o intercâmbio que estava sendo ofertado pela primeira vez aos discentes do mestrado. Logo me inteirei com os intercambistas da Itália (da equipe de 2022) e participei
do curso. Me apaixonei pela língua italiana, pelas músicas e a vontade de
conhecer aquilo que só ouvíamos falar ou que só víamos em livro didático.

No ano de 2023, aconteceram alguns problemas burocráticos
que impediram de lançar o edital do intercâmbio, pensei que a viagem não ia
acontecer, mas com muita luta, o professor conseguiu a liberação da compra das
passagens e fui informado que a viagem ia realmente ia acontecer. Fiz rifa,
vaquinha para conseguir me manter por lá durante os quase dois meses de
intercâmbio e estudei o idioma italiano todas as manhãs.

E no dia 8 de maio de 2023, partimos de
Salvador-BA, passando por Guarulhos-SP, Amisterdã – Holanda e até chegar em
Veneza – Itália. E foi já em Amisterdã que a magia da interculturalidade
aconteceu, pois no aeroporto, comecei a ouvir inúmeras pessoas falando em
diferentes idiomas e isso foi me impactando e caindo a ficha de que estava se
concretizando esse projeto em minha vida. E em Veneza-ITA fui recebido pela presidenta
da Associação EnARS, Isabela Polloni e peloo professor Nicola Andrian, no dia 10 de
maio de 2023

As atividades foram realizadas na região do
Vêneto-Itália, entre 3 cidades, sendo que em cada uma acontecia uma atividade
objetivada. Foram elas, as cidades de Padova, Rovigo e Badia Polesine. 

Em Pádova aconteciam as aulas de Língua
Portuguesa e Cultura Brasileira todas as terças-feiras, o curso era ministrado
por Eu e Edvan, para estudantes intercambistas e público em geral entre 1h a
1h30min de curso, no turno da tarde, essas aulas aconteciam na Associazione
Marcellino Vais.


Em Rovigo, estudávamos como discentes na
Extensão da Università Degli Studi di Padova, no curso de Ciências da Educação
e da Formação, em uma disciplina chamada Pedagogia Interculturale. A disciplina
tinha como docente a professora Drª. Lisa Bugno. As aulas aconteciam entre os
dias de segunda, terça e quarta, das 11h:45min às 13h:15min.


Em Badia Polesine, é o lugar, e utilizo essa
categoria geográfica, pois ela denota um espaço, que possui significados
particulares e de relações humanas, e nesse sentido, foi o lugar onde moramos
no período do intercâmbio. A residência alojava uma das casas acolhedoras da
Cooperativa Porto Alegre com sede em Rovigo, que em específico, só havia
recebido imigrantes de Blangladesht.

Estudando Na Itália: A
Teoria Da Interculturalidade

O intercâmbio estudantil
aconteceu em uma extensão/campus da Università degli Studi di Padova na cidade
de Rovigo. As aulas aconteciam de segunda a quarta-feira. Iniciamos as aulas
dia 10 de maio de 2023, um dia depois que chegamos na Itália, como diz o
ditado, pegamos “o bonde andando”. Era a 6ª aula do semestre, fomos
apresentados para a professora Lisa Bugno e para a turma que tinha mais ou
menos 120 estudantes. 

As aulas tinham como base
principal o livro do professor Dr. Luca Agostinetto L’intercultura in testa:
Sguardo e rigore per l’agire educativo quotidiano (Intercultura na cabeça:
Olhar e rigor para a ação educativa diária), e o livro da professora Lisa Bugno
– Per una scuola più interculturale. Indagine sulle concezioni degli insegnanti
tra teoria e pratica (Por uma escola mais intercultural: Levantamento das
concepções de professores entre teoria e prática).

Os livros trabalhados nas
aulas apesar de trazerem as perspectivas dos professores, tinham um arcabouço
teórico importante, sendo trabalhados vários conceitos como educação,
interculturalidade, cultura, fenômenos migratórios, multiculturalidade,
diversidade cultural, pedagogia intercultural, identidade e Interinclusão.
Trazendo a visão de intelectuais importantes como Morin, Deleuza, Geertz,
Taylor, Milano, Marazzi, K-lock Hohn, entre outros que contribuem com conceitos
trabalhados em sala

As aulas eram um pouco
expositivas, mas que a professora tentava uma interação com os estudantes,
fazendo perguntas durante as aulas, mas na maioria das vezes só 6, 8 alunos
interagiam, acredito que por medo de errar ou falar algo errado em frente a 120
pessoas. A professora sempre fazia quiz utilizando a plataforma “Wooclap.com”
em que os estudantes através do “QR CODE” acessavam e ela interagia com as respostas deles.

Além das aulas, tivemos 4
seminários com professores falando de experiências com interculturalidade e de
ações sociais. Uma delas foi com o professor Nicola Andrian, explanando sobre o
programa Intereurisland e as experiências de intercâmbio Brasil-Itália e sua
ampliação com outros países. Nesse seminário, falamos pela primeira vez em italiano
na frente de tanta gente. Eu estava bem nervoso e por esse motivo, decidimos
elaborar um texto e ler para todos. No meu texto foquei em 3 aspectos que
estavam me impactando até aquele momento em relação a Itália e aos imigrantes
bengaleses: 

1º A identidade cultural que
vimos nas aulas, no sentido de que os italianos têm aspectos próprios e
diferentes de nós brasileiros, por exemplo: comer, vestir, cumprimentar, gestos
e linguagem… Mas o impacto não foi só com os italianos, mas com os
Bengaleses, que também têm aspectos completamente diferentes da Itália e também
do Brasil, por exemplo a comida é extremamente apimentada, a maioria deles são
islâmicos e as roupas são diferentes e ainda o idioma muito diferente.

2º A língua, esse aspecto me
impactou muito, visto que tivemos pouco tempo para aprender italiano (ainda
estamos aprendendo). Mas nos deparamos com o desafio de tentar nos comunicar
não só em italiano, mas também em bengalês e inglês, que são línguas que eu não
falo. Então, para nos comunicarmos, usamos italiano, inglês e gestos das mãos.

E o 3º e último aspecto foi o da alteridade, pois ao ter esse contato com pessoas diferentes,
identificamos que as pessoas não são iguais e que apesar de terem basicamente a
mesma idade, todos possuem identidades próprias que foram construídas,
ressignificadas por suas experiências pessoais e sociais.

E que estava muito feliz por
ter essa oportunidade única, que com certeza vai mudar minha vida e todos ali
estavam fazendo parte desse processo.

O Português Brasileiro: Uma
Aula Descolada

Esse momento para nós foi
muito mais fácil por dois aspectos, o primeiro que somos professores educadores
e o segundo que as aulas eram somente em português.

Outra vantagem é que a
maioria dos participantes eram intercambistas e tinham uma base de estudos do
português e os outros tinham interesse na língua, devido um contato ou uma
experiência de trabalho com a língua portuguesa. 

Nossas aulas foram um tanto
básicas, alfabeto, números, cores, conjugação verbal, dígrafos e ortografia,
regiões geográficas e um pouco de história do Brasil. Esse último, tivemos um
aprofundamento com o grupo multifocal com discussões políticas, processo de
colonização, territorialidades e singularidades culturais do Semiárido e
Nordeste, focamos nessa parte do Brasil, já que o intercâmbio das meninas
acontece no Território do Sertão do São Francisco.

Ao longo das aulas íamos
interagindo em experiências de diálogos, de algumas situações cotidianas ou
eventuais em bares e restaurantes.

A Interculturalidade em
Prática: Vivência na Cooperativa Porto Alegre

Nossa vivência na casa de acolhença
Porto Alegre na Cidade de Badia Polesine foi muito impactante, aqui vivenciei
as experiencias mais importante do intercambio. Lá estávamos realmente vivendo
a interculturalidade, pois os balgaleses além de não falarem italiano, eles
possuem uma cultura islâmica muito forte e diferente da Itália. A forma de
comer, de vestir, de falar, entre outras.


A cooperativa Porto Alegre
possui outras áreas de atuação, mas a experiencia de acolhença é recente. A
casa em Badia estava funcionando a dois meses quando chegamos por lá. Tivemos
o prazer de ter um quarto, com sala de estudos e um banheiro exclusivos para
nós, além de ter fornecimento da estadia, também tivemos alimentação básica
diária.

O nosso objetivo na
cooperativa estava no sentido de interagir com os meninos, provocar socialização
e experimentar o cotidiano de um imigrante na Itália. Os bangaleses chegam à
Itália em uma situação muito difícil, correndo o risco de vida através de botes
no mar mediterrâneo, saindo do Líbano e chegando ao Sul da Itália em sua
maioria na região da Sicília.

Nossa comunicação se dava de
muitas formas, as vezes em italiano com poucos que falavam, as vezes em inglês
ou com gestos de mãos. Ou contávamos com o auxílio do app “google translate” já
todos falam em bengalês. Em conversas informais sempre perguntava o que levou a
sair do seu país e vir viver na Itália. Todos falavam sempre do problema
econômico de seu país Bangladesh, de experiencias tristes e violentas, de
processo de fome, miséria e morte, perca de pais, mães, esposas, entre outras.

 Inúmeras histórias tristes que me impactaram e
me arrancaram lagrimas muitas vezes, inclusive agora ao escrever esse relato e
rememorar essa vivencias. E mesmo com o cenário difícil, estavam com um sorriso
no rosto e vontade de vencer e todos queriam conseguir emprego e retornar para
seu país. Isso me faz pensar no quanto devemos ser gratos pelo que temos e
aproveitar as oportunidades ao máximo que a vida nos dá.

Itália: Coisa De Livro
Didático

A Itália é encantadora, o que mais me chamou
atenção foi a arquitetura das cidades, apesar de serem parecidas, e sempre ter
um a praça dos senhores que se assemelham muito, foi incrível ver coisas que só
via em livro didático.

Conheci a arquitetura bizantina em Ravena; a casa do
poeta Petrarca conhecido por aperfeiçoar o soneto italiano em Arquà Petrarca,
com casas de pedras vinícolas nas colinas do Abanno. Andar nas “calletas”, nome
dado as ruas e vielas da cidade de Veneza e suas belas gondulas, caminhar na cidade
das artes em Florencia com sua beleza da arte romântica, conhecer a cidade dos
tijolinhos vermelhos e dos grandiosos castelos renascentistas Ferrara; e a belíssima
cidade de Verona que inspirou Shakespeare na escrita de Romeu e Julieta, essa
cidade foi a que eu mais amei conhecer.

Tive o prazer de comer uma belíssima lasanha na
cidade de Bolonha e passar 2 dias na poderosa cidade do império romano, a
cidade do amor de trás para a frente, ROMA, encantado com a grandiosidade das
catedrais e do patrimônio mundial da humanidade, o Coliseu romano. Além de
conhecer o Vaticano, a imensa Basílica de São Pedro e o Castelo de Sant’Angelo.

Além dessas belezas tivemos o prazer de
participar de seminários educativos em Padova e Rovigo, além de contribuir com
uma formação de animadores de colônias de férias em Monselice.

Enquanto
estávamos vivendo na Itália, a região da Emilia-Romana (centro da Itália) foi
assolada por uma catástrofe natural, com as chuvas intensas, o nível do rio
subiu e invadiu a cidade e várias casas, então nós decidimos fazer um
voluntariado, com a participação de dois bengaleses, na limpeza das casas na
região atingida, esse momento foi também impactante pelo processo empático e
humanístico que vivemos em solidariedade com aquelas pessoas e de nos comunicar
em um bem comum com outro independente da língua.

Foi uma experiência rápida mais que jamais
esquecerei, conheci amigos, estreitei laços e registrei na mente o no coração
experiências, educativas, formativas, sociais, emotivas.


Entendo que
intercâmbio foi um processo importante para o programa PPGESA em relação a
pontuação da internacionalização dele, bem como a internacionalização da
pesquisa por nós intercambistas.


Esse momento se torna riquíssimo para nosso processo
de formação não só acadêmico-científica como também de formação pessoal, abrindo
novos horizontes para pensar, refletir e ver o mundo com diferentes lentes,
impactando-nos com toda sua diversidade e complexidade do mundo. Obrigado a
todos os envolvidos na realização desse projeto que cresceu no meu coração,
vocês são demais e que venham mais possibilidades para novos intercambistas.

Viva a Interculturalidade!!
Berg

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